segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Cuiabá: Um Paraíso no Centro da América! (Mangueira - 2013)

Cuiabá: Um Paraíso no Centro da América! (Mangueira - 2013)


PRESIDENTE: IVO MEIRELLES
DIREÇÃO DE CARNAVAL: JEFERSON CARLOS
CARNAVALESCO: CID CARVALHO
PESQUISADOR DE ENREDOS: MARCOS ROZA

G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA

SINOPSE DO ENREDO

Ideia Original e Carnavalesco: Cid Carvalho
Pesquisa e Texto: Marcos Roza
“Cuiabá: Um Paraíso no Centro da América!”

Ouçam o apito da sirene que indica que o trem verde e rosa vai dar a partida. Não cuiabanos! Não se trata da máquina de ferro e aço que há 150 anos é esperada ansiosamente; mas, quando a cortina de fumaça dos fogos de artifício se abrir e a penumbra se dissipar, todos entenderão que o sonho é a verdadeira vitória sobre o tempo. Alegrai-vos cuiabanos de tchapa e cruz1 e de coração. O tempo da espera acaba aqui e agora! Todos a bordo, acomodem-se. Olhem através das janelas de suas almas e vejam, a cada estação, a memória cuiabana em desfile. Por alguns instantes, deixem-se levar pela imaginação; não como alguém que se perdeu no tempo à espera do trem, mas com a sabedoria daqueles que fazem do tempo o combustível que alimenta a esperança.

Estação Primeira: Mangueira.
O trem está em movimento e os músicos mangueirenses fazem rufar a Bateria Surdo Um. Há uma apoteótica celebração de boas-vindas. Personificado na “lúdica permutação dos nomes próprios em apelidos 2”, eis o maquinista dos versos: Mestre Jamelão. O nosso eterno intérprete de sambas-enredo dá o tom à memória dos "gênios anjos mangueirenses"- Cartola, Carlos Cachaça, Zé Espinguela, Nelson Cavaquinho, Dona Zica, Dona Neuma, Mocinha, Xangô da Mangueira entre outros, que, juntos, saúdam e convidam todos os presentes a embarcarem nesta viagem rumo ao "Paraíso no Centro da América". Partindo da Estação Primeira, o trem mangueirense percorrerá os trilhos da história da "Cidade Verde", a capital do Mato Grosso, e revelará para o mundo, tal qual o antigo sonho de integração, este deslumbrante rincão fincado no coração do Brasil. Cuiabá, também conhecida como a Cidade Verde, a partir de agora, passará a ser chamada de Cidade Verde e Rosa!

Estação: Eldorado.
Como se emergisse das cristalinas águas dos rios, com sua imponente farda,“General Saco”, habitante do reino das riquezas, recebe a nossa composição. Celebra nossa presença com a história de fundação de Cuiabá.

Nomes havia muitos para a mesma situação: negro sabre, branco espada, índio tacape, flecha e facão. Mas é no garimpo que se miscigenaram, num só princípio de unidade geral, construindo da geração espontânea de cada célula que se agrega e vai dando subsídios ao nascimento de uma consciente e sólida civilização.

Desbravam o fabuloso espaço fluvial-lacustre habitado por criaturas fantásticas, guerreiros indígenas e enfeitiçados pela farta quantidade de ouro encontrada; imaginam-se no cobiçado Eldorado, um lugar onde tudo era de ouro e pedras preciosas, até mesmo os nativos, os bichos, as flores e as frutas, segundo relatos dos próprios Bandeirantes.

De invasão em invasão, uma audaz expedição ficou na memória. Pascoal Moreira Cabral escreve a epopeia da nossa história:

Parte à frente de uma Bandeira
E de Tordesilhas
Rompe a linha divisória...
Descobre ouro às margens do Rio Coxipó,
Funda, em 1719, o primeiro povoado português,
Cuiabá.
Uma só essência! Terra boa e altaneira.
Não importam mais os maus tratos de uma fúria transitória,
Cuiabá orgulha a pátria brasileira,
ostentando imortal passado de glória.

Estação: Mitos e Lendas.
Nossa composição segue pela penumbra das matas... Recebidos por“Antônio Peteté”, andarilho de vida pacata e dono de um leque fabuloso, nos conta sobre os causos cuiabanos.

Há muito tempo ouve-se falar na presença de um monstro em forma de serpente, chamado minhocão, que habita o rio Cuiabá. Relatos vão de simples aparições até contatos da embarcação ou táteis com o ser, como tocar a canoa na cobra ou descer em seu lombo, pensando ser terra firme.

Por esse mundão cuiabano, vaga uma cobra de fogo que assombra as pessoas, conhecida como Boitatá e tem também um velho índio, que se transforma em pássaro encantado ao anoitecer - o Tibanaré. Já nas matas virgens e no cerrado, mora uma criatura que só tem um pé, o Pé-de-garrafa. E se, em uma noite sem lua, você se encontrar com uma mulher vestida de noiva perambulando pelas ruas cuiabanas, afaste-se, porque é o fantasma da Dama de Branco.

Entre lendas e mistérios, quem nunca se arrepiou ao saber, depois de comer a cabeça do pacu4, que uma das suas virtudes é ser casamenteiro? Ou quem não saiu em busca de novos desafios à procura da perdida “mina dos martírios”?Pois bem, abençoados pela Mãe d’Água, tudo isso faz parte do nosso imaginário popular. É tudo cultura, como em toda literatura, e cuiabana é a sua assinatura.

Estação: Arte e Sabor
Declamando um poema de amor, lembramo-nos dos tempos de menino... “Joga peteca, salta ioiô”, o trem da Mangueira apresenta o artesanato e a culinária brincando com “Zé Bolo Flor”.

Na cerâmica e no traçado, como em todo o artesanato e no chão simples da rua que a vida chega pra se mostrar, se come, se bebe, se dança, a vida é uma festança em cada feira popular. Expõem nas janelas: redes, mantos, caminhos de mesa, cativando quem passa pra namorar ou comer um doce chamado furrundu, de sabor tão peculiar.

E olha que a criatividade não é pouca! Se não pega pela arte, nos seduz pela boca. Haja fome, meu irmão, o cardápio é indicado– nem falo da farofa de banana ou da mojica de pintado. Nem da paçoca de carne seca, muito menos do maxixe recheado –que, aí, seria um pecado. Em Cuiabá, a alimentação é sagrada: come-se de tudo, não tem conversa fiada. Duvido que alguém resista à cajuada, ao arroz de pequi, ou à saborosa cabeça de boi assada.

Estação: Festas de Santos.
Sob o “arco da iluminação”, aportamos. Curandeira de mão cheia, “Mãe Bonifácia”, organiza o muxirum5 para início dos festejos. Redenção! Goza o povo de um amor à divina celebração. Fazem da crença uma confiança obstinada e, da reza, um canto em homenagem à Festa do Divino Espírito Santo de Cuiabá.

Com a pureza no olhar, pedem a benção a Bom Jesus, o padroeiro do lugar. Em procissão, louvam São Benedito, como crença de sua devoção... Festeiros, esmolas, bandeiras, cerimônias do mastro, procissões fluviais enlaça-nos em tal predestinação. Depois da promessa, não há quem resista à tamanha tentação. Seguem os cortejos da queima de fogos e dançam quadrilha de São João.

Um momento precioso!
Dançam o“São Gonçalo”, como parte significativa da religiosidade rural, onde o santo é um deus infinito que lava as dores e enxuga o pranto. Ecoa das violas de cocho, das batidas do mocho e do ritmo do ganzá, a genuína musicalidade cuiabana. No registro do saber, o povo se mistura num tempo puro e sem pecado. Na dança e no canto, quem gira chega dando seu recado - com o cururu, siriri e rasqueado.

Sucede que as festas de santo têm lá seus mistérios... Nelas misturam-se o laico e sacro numa simbiose natural - danças, rezas, músicas, brincadeiras e religiosidade. Inspirados, e bem na hora da partida rumo à próxima estação, chegam os mascarados com suas vestes coloridas, dançando em torno do mastro, o “trança-fitas”.

Estação: Portal do Paraíso.
Um momento: siga um conselho e tome fôlego antes de prosseguir. Pronto! Lá vamos nós! Há “tanta vida, tanta história, que não foge da memória a fonte de tanta beleza. É a terra, é a gente, é tudo aquilo que Deus criou e que se chama natureza”.

Mareja-nos o olhar ao avistarmos um místico mosaico geometrizante: ferruginosas franjas das bordas dos desfiladeiros, misteriosas cavernas e inscrições rupestres reveladas em sítios arqueológicos, cachoeiras de águas cristalinas e até mesmo um casal de araras vermelhas sobrevoando o céu, fazem da Chapada dos Guimarães um louvor à obra do Criador.

Adiante, uma revoada de tuiuiús - ave símbolo do Mato Grosso - nos conduz a um passeio pela fascinante biodiversidade e à extraordinária vida selvagem do Pantanal. Se alguém ainda acha pouco para justificar a alcunha de “Um paraíso no centro da América” a Cidade Verde ainda se dá ao luxo de ser o Portal da Amazônia! É neste cenário paradisíaco, de odores edênicos, que a Mangueira canta e se encanta:

Glória aos teus tesouros,
Ao teu cintilante céu azul!
Bendita sejas, terra amada.
Cuiabá, tu que és do meu Brasil a pérola engastada
Em pleno coração da América do Sul.

Estação: Mandem lembranças ao Futuro!
Chegamos a nossa última parada e imediatamente uma negra esguia e defensora de nobres ideais ergue a voz e diz: Olhem pra frente e além dos muros, Cuiabá é uma cidade a caminho do futuro! É a “Maria Taquara”.

“O conto que a gente canta é a história que o povo faz”.Cuiabá reinventa-se como recanto laborioso de seu povo, o mesmo povo de espírito comunitário, que ficou isolado durante anos das principais capitais do país e tornou-se adulto, podendo ser criança. Da lembrança dos “quintais com mangueiras”, de tomar guaraná ralado à beira de um córrego à sombra de um acopari, de soltar“pandorga6”, “finca-finca”,“busca-pé” e “trique-trique” com a boca suja de pixé7, erguem-se, nessa terra de sol escaldante, indestrutíveis riquezas, tecnologias inquestionáveis à frente de sua crescente economia.

Cuiabá é a“cidade das oportunidades” que se desenvolve combinando tradições com progresso. Desta terra emana uma energia contagiante... Feita, sobretudo, da confiança no futuro e do calor humano bordado na alma de sua gente. Todos juntos por Cuiabá: evidenciam a sua crença e preservam a esperança de continuidade de uma cidade que continuará evoluindo e atendendo às necessidades de todos os que vivem nela.

Unida e de braços dados com a Mangueira, se orgulha e se prepara para receber o maior evento esportivo do planeta: a Copa do Mundo de 2014. Multiforme e heterogênea, nos deixa o legado de que o futuro é aqui. Suplantada por “alegorias-indústrias” descobre a fórmula mágica para sua industrialização: a sustentabilidade! Não à poluição, compromisso desta nação.

O final da nossa jornada sempre será o início para os que têm sensibilidade.

Cid Carvalho, carnavalesco.
Marcos Roza, pesquisador de enredos.

Bibliografia Consultada:
BORGES. Fernando Tadeu de Miranda. Esperando o Trem - sonhos e esperanças de
Cuiabá, Ed. Scor Tecci; 2005.
FREIRE. Silva. Manifesto Mosaico Cuiabano, 1977.
FREITAS. Márcia Auxiliadora de. Cuiabá: imagens da cidade, dos primeiros registros
à década de 1960, Entrelinhas; 2011.
GUIMARÃES. Lauristela. Organização. Cuiabá: Cidade em Evolução, Ed. Primeira
Página; 2011.
MARTINS. Moisés. Cuiabá de Vila a Metrópole Nascente, Caderno 1; 2006.
ROBERTO. Loureiro. Cultura mato-grossense: Festas de Santos e outras tradições,
Ed. Entrelinhas; 2006.
SCALFF. Ivens Cuiabano. Kyvaverá, Ed. Entrelinhas; 2011.
SILVA. Paulo Pitaluga Costa e. Cuyaverá, Cuiabá: a lontra brilhante, Ed. Carlini e
Carniato; 2007.

Agradecimentos:
Francisco Belo Galindo Filho (Prefeito de Cuiabá), Sílvio Fidelis (Secretário de Governo), Carlos Britto (Secretário de Comunicação), Luiz Poção (Secretário de Cultura), Tânia Aparecida Barteli (Secretária de Turismo), Carlos Haddad (Secretário Adjunto de Turismo), Fernando Biral (Procurador Geral), Regina Kaizer (Secretária de Assistência Social e Desenvolvimento Humano), Caique Loureiro, Hugo Monteiro, Dona Domingas, Larissa Silva Freire, Cleyton Normand da Fonseca (UFMT), Márcio Bororo, Maria Teresa Carrión Carracedo, Elizabeth Madureira Siqueira (IHGB), Professor Leonam Lauro e a todos os cuiabanos e mato-grossenses que contribuíram com ideias, dicas e apoio para esta iniciativa.

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